Dança e Arte: Acertando o passo

Qual a relação entre música e dança? Qualquer movimento que fazemos é dança? Podemos dançar qualquer música?

Quando você está nervoso, não acaba sentindo uma vontade de se mexer para aliviar a tensão? Por que será que algumas vezes sentimos vontade de mexer o corpo quando ouvimos uma música? “O corpo estremece, as pernas desobedecem, inconscientemente a gente dança…”, você conhece esse trecho da música do grupo Araketu? A música realmente nos dá vontade de dançar? Realmente o ser humano, muitas vezes, sente a necessidade de se expressar por meio dos gestos, movimentos, ritmos e pulsações.

Dançando podemos descobrir quem somos, o que podemos, onde estamos, com quem estamos… É também por meio da dança que podemos aprender a nos relacionar com o mundo, com os outros e com nós mesmos.

Dança e Arte: Acertando o passo

Dançando na História

Você já deve ter ouvido frases, como: “dança da chuva”, “quem não dança, segura a criança”, “o velho dançou”, “quem dança seus males espanta”, entre outras. Esses termos mostram como a dança faz parte da nossa vida até em ditados populares. O que você acha que cada um deles significa?

Pois bem, podemos perceber que a dança se faz presente em nosso vocabulário e na maioria das sociedades, estando sempre relacionada com sentimentos e situações sociais. Normalmente as pessoas dançam em festas, bailes, casamentos e comemorações, entretanto, existem muitas sociedades nas quais se dança em rituais fúnebres ou tristes, como em velórios. Desde os primórdios da humanidade o ser humano sentiu a necessidade de se manifestar pela dança e foi em seus rituais e celebrações que começou a utilizar movimentos corporais para atrair a caça, conseguir alimentos, pedir proteção divina, entre outras situações.

Acredita-se que nessa época não se dançava apenas para se divertir, como fazemos atualmente em discotecas, shows ou em casa, sozinhos, mas para atrair sorte e proteção. Portanto, a dança tinha um caráter mágico e religioso. No período greco-romano existia uma preocupação com o ideal de perfeição e harmonia entre o corpo e o espírito, e isso se refletia na dança. No período da Idade Média, a dança era muito utilizada pelos camponeses nos rituais e celebrações relacionados às colheitas, porém, do ponto de vista religioso (judaico-cristão) o corpo humano era visto como objeto de pecado e degradação, e a dança relacionada a rituais pagãos.

O balé surgiu no período da Renascença italiana e foi levado à França por Catarina de Medicis e daí em diante se espalhou por todo o mundo e foi sofrendo inúmeras transformações. A dança moderna apareceu no início do século XX, sendo que seus precursores procuravam maneiras mais livres e pessoais de expressar ideias por meio da dança.

Os elementos da dança

Sem movimento não existe dança, por isso, o corpo é fundamental para que exista a dança, mas não é só isso. Para dançar precisamos de um lugar, ou seja, um espaço. Podemos dançar em um palco, numa sala de aula, na quadra de esportes ou em outros lugares.

Não são apenas os bailarinos e dançarinos profissionais que podem dançar, qualquer um de nós pode. Podemos usar uma música, ou dançar em silêncio, porém, a dança precisa de um tempo ou ritmo para acontecer.

Dança e Arte: Acertando o passo

Em resumo, para que a dança aconteça é preciso que existam três elementos formais:

1º) O movimento corporal – É o corpo que se movimenta, não existe dança sem um corpo em movimento. Pode-se perceber nos movimentos expressivos do corpo, a necessidade natural que o ser humano tem de expor seus sentimentos e pensamentos, de forma organizada ou não.

Podemos expressar sentimentos sem dizer nenhuma palavra, usando apenas movimentos. Na dança, na ginástica, nas lutas marciais, enfim, de diversas maneiras, usamos o nosso corpo para manifestar, expandir nossas emoções.

Nosso corpo pode produzir diversos tipos de movimento, entre eles:

  • Movimentos involuntários – são reflexos que ocorrem de forma inconsciente e que não controlamos, como engolir a saliva, piscar os olhos ou o pulsar do coração.
  • Movimentos automáticos – são movimentos já assimilados pelo corpo, como andar, respirar e andar de bicicleta.
  • Movimentos voluntários – feitos por que se deseja, se tem vontade, como levantar as mãos ou chutar.
  • Movimentos artísticos expressivos – são os movimentos intencionais, feitos para expressar emoções e sentimentos. É esse tipo de movimento que a dança utiliza.

2º) O Espaço – O corpo em movimento utiliza o espaço de forma expressiva e o espaço influencia no movimento. O espaço é onde a dança está acontecendo, podendo ser pequeno, grande, circular, retangular, de madeira, cimento, entre outros. É um elemento fundamental na dança, pois é nele que o corpo realiza seus movimentos. Um espaço pode ser adequado ou não à determinada dança. Por exemplo, o balé ou a dança entre casais são danças que requerem espaços específicos, no entanto, nas atuais danceterias podemos dançar “espremidos” que não vai haver problema! O espaço da dança é definido pelas diferenças culturais, temporais ou de gerações.

Assim como o desenhista, antes de iniciar o seu trabalho deve estudar o espaço do papel, a fim de organizar as linhas que formarão a imagem pensada, o coreógrafo também deve pensar no espaço ao seu redor, só que usando o corpo humano como ferramenta expressiva.

Dança e Arte: Acertando o passo

Alguns dos aspectos a serem pensados na criação em dança são:

  • Formação inicial: toda dança tem uma posição inicial que os dançarinos devem assumir antes de começar a dançar.
  • Níveis altos, médios e baixos: de modo geral são movimentos possíveis do corpo utilizando os espaços acima da cabeça, na altura da cintura ou abaixo dela.
  • Salto e queda: o salto ou pulo é usado em muitas danças, basta pensarmos em algumas coreografias da moda. O salto pode ser dado com ambos os pés, em diversas direções, com um pé só, partindo-se da posição agachado, de pé, etc. Além disso, dependendo da forma como o salto é feito ele pode proporcionar quedas diferentes: com os dois pés, caindo e rolando no chão, abaixando o corpo, etc. O importante é saber que os saltos e quedas em uma dança não são por acaso, eles têm uma intenção e, dependendo dela, serão trabalhados pelos dançarinos de formas diferentes.
  • Direção: o movimento pode ser feito para diversas direções no espaço: frente, trás, diagonal, esquerda, direita, etc. Essas direções são determinadas pelo espaço e tipo de dança.
  • Rotação: é o giro, pode ser feito pelo corpo todo, por uma parte do corpo, em duplas, etc.
  • Deslocamento: pode ser feito de diferentes formas em uma dança. Saltando, andando, correndo, sendo carregado, se arrastando, girando, entre outras. Esses deslocamentos podem se dar por meio de “caminhos” retos ou curvos, e serem feitos individual ou coletivamente.

3º) O Tempo – Todo movimento expressivo tem um ritmo e se dá de acordo com organizações temporais. Por isso, outro elemento essencial na dança é o tempo. Assim como na música, aDança e Arte: Acertando o passo dança é uma Arte que ocorre em determinado tempo. Por exemplo, a necessidade de coordenação e sincronia num casal de dançarinos é fundamental para a dança ser bem-sucedida o mesmo ocorre na sincronia de apresentações com vários dançarinos, e essa sincronia é determinada pelo tempo que duram os movimentos.

Ao contrário das artes visuais, como uma pintura, por exemplo, que depois de feita pode ser apreciada e retomada quantas vezes for necessário ou desejado, a dança existe durante a sua execução, isto é, perde-se no tempo. Se for registrada em filmes, por exemplo, deixa de ser uma dança ao vivo. Portanto, dizemos que a dança é organizada no tempo, existindo apenas enquanto é dançada. Já falamos da grande relação existente entre a música e a dança e de como no decorrer da história das sociedades uma influenciou a outra refletindo situações sociais ou culturais de uma época. Por exemplo, mudanças rítmicas das músicas ocasionaram mudanças nos movimentos da dança, assim como mudanças nas concepções de movimento acarretaram transformações nas músicas.

A coreografia na dança

A coreografia é a arte de compor os movimentos e os passos de uma dança. A palavra coreografia vem do grego Khoros, que quer dizer dança, e Grapho, que quer dizer escrita. Uma coreografia é a composição de uma sequência de movimentos de uma dança, como por exemplo, o movimento dos pés, dos braços e o deslocamento dos dançarinos nas diversas direções. Muitas danças têm uma coreografia própria, como o tango, a quadrilha e o balé, por exemplo.

Dança e Arte: Acertando o passo

A pessoa que cria a sequência dos movimentos e passos de uma dança é chamada de coreógrafo, podendo também dirigi-la, ensaiando os dançarinos. A palavra coreografia também pode ser usada para designar a representação gráfica (escrita) dos movimentos de uma dança. Porém, podemos improvisar dançando. Quando você vai a uma danceteria, você geralmente dança ao ritmo da música, improvisando os movimentos ou passos, criando uma dança improvisada, sem que haja uma coreografia pré-definida.

A música determina a dança?

A partir dos grandes descobrimentos e do consequente contato e miscigenação entre as culturas africana, indígena e europeia, novas manifestações culturais foram surgindo. Esse “sincretismo” pode ser visto na culinária, na religião, na língua, na música e, é claro, nas danças, principalmente das Américas. Por exemplo, os espanhóis assimilaram o costume da contradança francesa da corte de Luis XIV. Essa dança se misturou a ritmos e músicas dos escravos, dando vida a novas danças na região do Caribe como a rumba, o mambo, o merengue e o chá-chá-chá, por exemplo.

O nosso samba também surgiu da mistura de uma dança africana, a “umbigada”, com seus batuques característicos e dos cantos das modinhas portuguesas. Por falar nisso, você já percebeu que muitas danças definem também o nome das músicas que são usadas na sua execução? O Tango, a valsa, o fandango, a tarantela ou o frevo são ao mesmo tempo danças e tipos de músicas, outro exemplo que nos mostra como a dança e música são inseparáveis.

A Tarantela, uma dança venenosa (ou quase!)

A tarantela é uma dança folclórica típica da Itália cujo nome vem de uma lenda. Conta-se que no século XIV, na Europa, na região da Itália, havia muitas aranhas denominadas Tarântulas. Sua picada causava febre alta e delírio e os doentes acabavam pulando e dançando até a exaustão, na tentativa de expulsar completamente de seu corpo o mal produzido pelo veneno da aranha.

Dança e Arte: Acertando o passo

Diz a lenda que para o doente sobreviver a esta picada teria que dançar ao ritmo da música Tarantela, surgindo assim, a dança de mesmo nome. Com o passar dos anos, essa dança tornou-se tradicional em diversas festas italianas. A tarantela é executada em pares, marcada por andamentos rápidos. Hoje, sabe-se que a tarântula europeia não é absolutamente venenosa, seu veneno é suficiente apenas para a paralisação de pequenos insetos que lhe servirão de alimento. Sua picada causa apenas febre na vítima. Será que essa história toda era só um pretexto para se dançar?

A tarântula

Seu nome científico é Lycosa tarantula, seu Filo: Arthropoda, Classe: Arachnida, Ordem: Araneae e Família: Lycosidae. As aranhas tarântulas são pouco agressivas. No Brasil, existem cerca de 100 espécies, sendo conhecida também como aranha de grama ou jardim. São facilmente encontradas em gramados, em jardins, no campo, próximo aos riachos e até mesmo nas residências. Essa espécie de aranha não faz teia.

Dança e Arte: Acertando o passo

A picada é dolorida, mas, normalmente, não evolui para casos mais graves. Em algumas pessoas pode ocorrer necrose local, porém não há necessidade de aplicação de soro antiaracnídeo. Na dúvida, colete a aranha e leve ao hospital ou posto de saúde mais próximo de sua casa.

O Frevo, Fervendo

O frevo é a dança e a música típica do carnaval de rua e de salão de Recife em Pernambuco. Ele é essencialmente rítmico, de coreografia individual e andamento rápido, isto é, velocidade de execução acelerada. Os dançarinos de frevo são chamados de passistas e se vestem com fantasias coloridas, agitando pequenos guarda-chuvas usados para ajudar os dançarinos a se equilibrar e para tornar o efeito da dança mais bonito.

Acredita-se que o frevo possui elementos de várias danças como a marcha, polca ou maxixe, ou então que ele foi influenciado pela capoeira. Existem muitos tipos de frevo, a maioria deles não é cantando e sua música é executada somente por instrumentos musicais de sopro e percussão como os surdos, que formam a orquestra do frevo conhecida como Fanfarra.

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A animada dança dos animais

Não são apenas os seres humanos que dançam, várias espécies de animais utilizam movimentos corporais definidos. Estas danças, geralmente realizadas pelo macho da espécie, têm a função de demonstrar os atributos do pretendente para que a fêmea escolha o seu parceiro. Em alguns casos, existem aves que montam arenas para a apresentação das danças, chamadas de “dança do acasalamento” ou “danças nupciais”.

Essas danças instintivas dos animais, no entanto, não possuem uma importante característica da dança humana, a socialização e a intenção estética. Para nós, a dança é uma rica forma de integração social e é por meio dela que podemos transmitir e identificar significados com o nosso corpo, muitas vezes difíceis de se transmitir apenas com palavras. No decorrer dos tempos, essas danças instintivas se tornaram fonte de inspiração para diferentes culturas. Na Coréia do Sul, por exemplo, existe uma dança folclórica que surgiu da imitação da dança nupcial dos “Grous de crista vermelha”, uma espécie de garça que há centenas de anos migra para a região. Na realidade, a observação do movimento dos animais é uma característica da cultura e filosofia oriental (taoísmo).

O milenar Tai-chichuan, por exemplo, combina artes marciais, dança e medicina e seus movimentos são inspirados na movimentação de animais de vida longa e que fazem movimentos mais lentos, como a garça e a tartaruga. O Kung fu de caráter mais marcial, buscou seus movimentos nos animais mais velozes como tigre, serpente, gafanhoto, águia, macaco e o mitológico dragão.

Kung Fu não é dança, mas parece

A palavra Kung Fu, no Ocidente, pode ser traduzida como “Maestria”, “Habilidade e eficiência” ou “Domínio alcançado com o tempo”. Mas no Oriente a palavra Kung Fu não é utilizada para designar a arte marcial, prefere-se o uso de dois outros termos.

  • “Wu Shu” – Wu = guerra e Shu = arte
  • “Wu Shu” – Wu = guerra e Shu = arte

Dança e Arte: Acertando o passo

É muito grande a quantidade de estilos existentes no Kung Fu. Estima-se que só na cidade de Hong Kong existam cerca de 360 estilos. Isso é devido à imensa população da China e à grande antiguidade do Kung Fu. Os primeiros estilos foram criados pelos clãs (famílias) e mantido em segredo por meio das gerações. Era muito comum que ao herdar um determinado estilo, um membro dessa família acrescentasse alguns movimentos por sua própria conta, e o estilo original sofria diversas modificações de geração para geração.

O Kung-fu é uma luta, sua intenção é a defesa e o ataque em momentos de perigo. Mas, qual a sua relação com a dança? Na verdade, nesse caso, o controle e conhecimento corporal, a atividade individual ou grupal, a utilização do espaço, a duração dos movimentos e a inspiração em movimentos da natureza podem ser elementos que aproximam essa luta de uma dança. Outra forma de luta que é conhecida também como dança é a capoeira. Nela, além dos elementos citados em relação ao Kung-fu, temos a utilização de música para acompanhar os dançarinos-lutadores, o que reforça ainda mais sua relação com a dança.

Dançar e treinar fazem bem, mas têm diferença!

Quem pensa que é só praticando esportes que exercitamos nosso corpo, esqueceu que a dança é uma ótima maneira de manter a forma e a saúde mental e física. Muitas academias vêm adotando vários ritmos e danças, misturados aos exercícios físicos para tornar os treinos mais prazerosos.

Os treinos esportivos têm como objetivo trabalhar os músculos e ajudar o praticante a vencer seus limites, buscando aperfeiçoar suas marcas, tendo na maior parte do tempo o objetivo de vencer, seja seu oponente ou suas próprias limitações. Porém, é importante ressaltar que ao se tratar da dança, qualquer pessoa pode praticar, mesmo os gordinhos, magrinhos, altos, baixinhos ou portadores de necessidades especiais.

É claro que uma boa elasticidade em alguns casos ou um pouco de força física em outros só colaboram na execução de alguns tipos de movimentos, mas o essencial, como dissemos acima, é que o movimento seja expressivo e mostre a maneira como um povo, um grupo ou uma pessoa vê e interpreta o mundo, seus sonhos, seus medos, enfim, a vida…

Realmente a música nos convida a dançar? Música e dança são parceiras inseparáveis ou não? As músicas e danças brasileiras como o frevo e o samba são bastante conhecidas e populares. Mas a Arte brasileira não se limita apenas a músicas e danças. Podemos dançar qualquer música? O que mais podemos conhecer da arte brasileira?

REFERÊNCIAS:

Arte / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 336 p