A Parede na Idade Média
A Idade Média ocorreu entre os séculos V, que tem como marco a queda do Império Romano, e o XV, quando inicia o Renascimento. No início da Idade Média, os bárbaros invadiram a Europa ocidental e destruíram muitas das construções e obras de arte. Mais tarde foram construídos os grandes castelos, como esses que vemos nos livros de contos de fadas. Nesta época, as religiões pagãs entraram em declínio e a Igreja e o Cristianismo passaram a dominar a Europa.
Neste período também ocorreu a Santa Inquisição, em que aqueles, considerados pagãos ou hereges, eram perseguidos e, muitas vezes, mortos em nome de Deus. Na Idade Média, temos três períodos artísticos: o Bizantino, o Românico e o Gótico. Neles há uma ênfase no mundo espiritual, em detrimento do mundo físico, daí resulta que as imagens sofrem uma esquematização, não havendo preocupação com a perfeição anatômica. As principais técnicas utilizadas eram o mosaico e o afresco.
Afresco é um método de pintura mural que consiste na aplicação de cores diluídas em água sobre um revestimento de argamassa ainda fresco, de modo a facilitar a absorção da tinta. Mosaico é uma imagem ou padrão visual criado por meio da incrustação de pequenas peças coloridas de pedra, mármore, vidro, esmalte ou cerâmica, justapostas e fixadas com cimento sobre uma superfície. Por exemplo, as pastilhas de cerâmicas fixadas em uma parede, um piso. (Houaiss, 2001)
Observe que o Imperador Constantino foi representado, no mosaico do Período Bizantino, com uma auréola na cabeça. Constantino foi o imperador romano que confirmou o cristianismo como religião oficial do Império. Nas imagens sacras apenas a cabeça de Cristo e dos santos era envolvida por esse círculo dourado e brilhante. Como podemos interpretar a auréola na cabeça de Constantino? A auréola na cabeça de Cristo, dos santos e até mesmo de personagens como o imperador Constantino é um símbolo de poder. Na atualidade, quais objetos representam poder? Veja a seguir a obra A Lamentação, de Giotto; nela as auréolas foram representadas apenas sobre as cabeças dos santos. Observe que o afresco parece dividido em duas partes.
Quais são elas, e o que significam? Giotto utilizou alguns artifícios de representação para destacar a figura do Cristo. Por exemplo, todos os personagens do quadro – anjos, santos e pessoas comuns – dirigem seu olhar para Jesus. O caminho que aparece atrás das figuras que protegem Cristo simboliza a descida do Calvário. O que o artista consegue exprimir por meio desta representação? Compare o afresco de Giotto com o mosaico representando Constantino e o Relevo Egípcio do Templo em Meidnet Hamu.
Note que diferentemente das obras do Egito Antigo quando o Faraó, por ser o personagem mais importante, era representado maior, Giotto representou Cristo do mesmo tamanho dos outros personagens. Já em comparação com a figura de Constantino, em que a auréola foi representada sobre um imperador, Giotto representa as auréolas identificando os santos, os anjos e Cristo.
O Pergaminho como Suporte
Pergaminho é o nome dado a um tipo de couro de caprino, ou ovino próprio para se escrever, muito utilizado na Idade Média. Esta técnica foi aperfeiçoada no antigo reino de Pérgamo, daí seu nome. (Houaiss, 2001). No Ocidente, foram feitas no pergaminho as primeiras ilustrações de textos que conhecemos. Um dos tipos de ilustrações desta época era a “Iluminura”, que é aquela primeira grande letra decorada que costumamos ver nos textos de contos de fadas.
A Tela como Suporte
Na Renascença passa-se a utilizar a tela como suporte para a pintura. Normalmente feita de tecido, por exemplo, algodão, cânhamo ou linho, esticado sobre um chassi ou caixilho, o uso da tela facilitava o transporte das pinturas. O material utilizado era a tinta a óleo que, segundo Vassari, foi inventada por Jan Van Eyck, um pintor do final do Período Gótico ou do início da Renascença. A terebintina, uma espécie de solvente oleoso, era misturada ao pigmento que depois era aplicada à tela. Esse processo impedia a secagem rápida da tinta, possibilitando ao artista refazer parte do trabalho, modificar sombreados, mudar certas tonalidades para dar maior realismo às obras.
Note que esta obra pode ser, a partir da Vênus, dividida em duas partes, uma com Zéfiro flutuando e outra com a primavera. Observe que Botticelli, para conseguir uma boa organização visual, representa a Vênus com uma certa curvatura para o lado direito da obra. Para contrabalançar a Primavera com um tecido nas mãos sobre um fundo arborizado no lado direito da obra, o artista coloca dois personagens abraçados na parte superior esquerda.
Isto dá o equilíbrio sereno à obra, passando a impressão que a Vênus nasce em meio a muita tranquilidade. Você consegue ver a linha de contorno? Não encontrou? Claro que não. Nesta época, os pintores deixaram de representar a linha de contorno como foi utilizada na Idade Média. O que ocorre, é que na verdade, se você observar, a linha de contorno é uma invenção humana, não existindo na natureza. Em que momento os personagens parecem-se mais com os seres humanos de verdade, na Lamentação de Giotto ou no Nascimento de Vênus de Botticelli? Por quê?
O Papel como Suporte da Arte
O papel surgiu na China por volta do ano de 150 d.C. Chegou ao Japão no início do século VII e à Europa no século XII levado pelos mouros. Seu uso como suporte artístico no Ocidente, ocorreu praticamente junto com a tela, embora bem menos valorizado e restrito a esboços artísticos. Ainda hoje, uma obra em papel é vendida por um preço até 200 vezes menor do que uma obra do mesmo artista em óleo. Mesmo assim, grandes obras foram feitas em papel, especialmente na atualidade, o que de maneira alguma diminui seu valor e significado artístico.
A Parede Urbana como Suporte
Na década de 1960, os jovens do Bronx, NY, EUA, começaram a utilizar o spray para escrever nas paredes da cidade. Esse tipo de manifestação ocorreu de forma paralela ao hip hop, justificando talvez a estreita relação entre eles. Os primeiros adeptos deste movimento eram chamados “writers” (escritores) e costumavam utilizar as paredes para escrever seus nomes e frases de protesto.
Aqui no Brasil, estas pessoas são chamadas de “grafiteiros”, e também realizam seus trabalhos nos muros das cidades. Mais tarde, alguns artistas, em busca de novas técnicas, começaram a utilizar esta linguagem, e foi desta forma que o grafite passou a ser considerado Arte. Os nomes dos artistas mais conhecidos são: Jean-Michel Basquiat, Keith Haring e Kenny Scharf.
Já no Brasil, alguns dos nomes mais conhecidos são: Alex Vallauri, Matuck e Zaidler. O grafitti da página anterior foi executado por Daniel Melin, professor de Arte em São Paulo que procura fazer trabalhos de crítica social.
Grafite X Pichação: embora semelhantes no suporte, estes dois times não jogam para o mesmo lado
Experimente perguntar a um grafiteiro o que ele pensa sobre pichação ou sobre o pichador? Certamente, no meio de sua resposta, haverá uma afirmação semelhante a esta: “grafite é arte, pichação é lixo”. E é verdade, não é à toa que normalmente, chamamos de grafite a pintura na parede com intensão artística e de pichação, a pintura na parede que simplesmente depreda, destrói. Mas a diferença não é só esta.
O grafiteiro normalmente tem ordem do proprietário da “parede” para fazer a pintura, pois o que ele faz embeleza a cidade, já o pichador pinta de forma desordenada, destrói o patrimônio alheio e torna o aspecto da cidade sujo, feio e perigoso. É por isto que não devemos chamar o grafiteiro de pichador. Então, não faça lixo, faça Arte e torne sua cidade cada vez mais gostosa de se viver e se visitar. Aliás, depredar o patrimônio alheio, seja público ou privado, é crime previsto no Código Penal Brasileiro.
REFERÊNCIAS:
Arte / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 336 p