Ensino da Ortografia

A importância do Ensino da Ortografia em Sala de Aula:

Aprender a escrever ortograficamente envolve um processo no qual o aprendiz erra ao se arriscar a usar a linguagem escrita – e esse é o caminho para que ele a aprenda. Quando se pensa nisso, o erro é concebido de outra forma. Não há dúvida de que o aluno erra porque não sabe. No entanto, se você fizer uma análise cuidadosa, poderá perceber que há erros e erros, e a natureza dos erros varia. VEJA OS EXEMPLOS A SEGUIR:

Ensino da Ortografia

Ao escrever esta parlenda, o aluno nos mostra que erra porque não domina o sistema de escrita alfabética. Pouco adiantará o professor intervir, corrigindo todas as palavras erradas e todas as letras que faltam, pois o aluno precisa realizar uma construção conceitual. Essa construção é indispensável para que ele domine uma questão básica: o princípio alfabético.

Ensino da Ortografia

O aluno que escreveu este texto já escreve alfabeticamente, mas ainda não domina várias questões:

  • Não respeitou a separação convencional entre as palavras, pois algumas aparecem emendadas e outras separadas (como em SITRAN PORTAR, para escrever SE TRANSPORTAR).
  • Há erros devido à transcrição do oral na escrita, ou seja, o aluno escreve como fala (isso ocorre em COMU, SI, ROPA).
  • Há erros em que, ao contrário, ele ainda não realiza uma análise fonética precisa, omitindo ou invertendo letras (como em SITRAN PORTAR, em que omite o S, ou GARNDE, em que inverte a ordem de R e A).
  • Há erros de concordância de número (OS MESMO PODERES) e gênero (A ROUPA PRETO).
  • Há ainda outros erros, em relação aos quais o professor precisa criar estratégias de ensino que levem o aluno a refletir e compreender sobre as regularidades e irregularidades da escrita das palavras.

LEVANTAMENTO DO CONHECIMENTO ORTOGRÁFICO

Em vez de considerar os erros como faltas, corrigindo-os um a um, procure olhar para a produção dos alunos como fonte de informação para pautar o planejamento e as intervenções do que ainda precisa ser ensinado. Fazendo isso, é possível prever que, em breve, ao menos alguns desses erros deixarão de ser cometidos. E sem que o aluno perca algo que nos mostra já ter conquistado: a disponibilidade para produzir textos completos e coerentes. Partindo do texto citado como exemplo, observemos os erros de ortografia em que o aluno escreveu UN, TEN, TANBEN e CON.

Pode-se interpretar que ele ainda não conhece uma regularidade da escrita em português: aquela que explica como utilizar M ou N para nasalizar vogais – ou seja, que nessas palavras se usa M antes das consoantes P e B e no final das palavras, e se usa N antes das demais consoantes. Portanto, faz-se necessário o ensino sistemático de tal regularidade, propiciando momentos de reflexão sobre o uso de M e N.

É importante ainda frisar que, como construção conceitual, pouco valerão as tentativas de ensinar a decorar listas de palavras com M ou N, ou mesmo o famoso enunciado: “só se usa M antes de P e B”. Aprender a escrever, nesse caso, envolve a compreensão e o uso de um princípio gerativo, de uma regra, e isso não ocorre com a simples memorização de enunciados. Voltando ao texto: quando o aluno escreve NARIS e XAPEU, comete erros ortográficos de outra natureza. Para essas duas palavras não há o que se denomina de princípio gerativo o qual permite decidir a letra correta.

Para saber se o correto é S ou Z no final de NARIZ, ou se devemos usar X ou CH para escrever CHAPÉU, é preciso consultar uma pessoa mais experiente na escrita ou o dicionário. A escrita dessas palavras será aprendida por memorização. Nesse caso, o aluno poderá escrever corretamente se lhe for oferecida a informação sobre a letra certa, no caso de palavras de uso frequente, ou se construir procedimentos de consulta às fontes adequadas. Com essa análise de uma produção infantil, queremos frisar que:

É preciso que os alunos escrevam e sintam vontade de fazê-lo, pois essa é uma das condições para que aprendam a escrever. Ao analisar as produções escritas de seus alunos, você terá acesso a valiosas informações, sobretudo que cada um já sabe sobre a escrita correta e o que ainda lhe falta aprender. A análise das produções de todo o grupo permitirá que você faça um mapa, um guia das principais questões que ainda precisam ser abordadas para que a turma escreva cada vez melhor, aproximando-se da escrita convencional.

A análise dos erros ortográficos cometidos pelos alunos ajuda a planejar o ensino e propor intervenções, pois permite avaliar quais erros se referem a uma regularidade ortográfica que as crianças ainda não dominam e quais devem ser tratados isoladamente, pois a escrita correta só pode ser aprendida mediante a consulta a fontes autorizadas, como o dicionário. Para que você possa de fato pautar o ensino pelas necessidades de seus alunos, é indispensável que encare os erros como indicadores úteis das reais necessidades de seu grupo; e que seus alunos, longe de verem os erros como os grandes vilões, possam aceitá-los como fonte de reflexão sobre a escrita correta.

Em relação às regularidades apresentadas no referencial, é preciso considerar que os alunos aprenderão se tiverem oportunidade de refletir especificamente sobre seu princípio gerativo ou (o que dá no mesmo) sobre as regras a elas associadas. Embora as regularidades precisem ser aprendidas quanto antes, não se espera que sejam todas de uma vez: seu ensino pode ser distribuído ao longo dos primeiros anos da escolaridade.

Vamos apresentar aqui várias atividades úteis para promover a reflexão sobre algumas regularidades ortográficas. No entanto, sugerimos que você proponha inicialmente uma produção de texto e faça uma análise dela, para detectar quais erros seus alunos mais cometem e, em consequência, que regularidades não dominam. Trata-se de uma forma de diagnosticar o que o grupo já sabe e avaliar quais questões devem ser trabalhadas.

Apresentamos, a seguir, uma série de questões para orientar sua observação. Você encontra neste Caderno de Orientações Didáticas sugestões de atividades para trabalhar em relação a algumas delas.

SEPARAÇÃO ENTRE PALAVRAS.

Essa é uma questão complexa para os alunos que estão no início da aprendizagem da escrita. Quando aprendem a escrever, é comum emendarem todas as palavras ou incluírem espaços inadequados entre elas. Essa não é uma questão ortográfica, mas demanda intervenções específicas desde o início do processo.

OMISSÃO OU TROCA DE LETRAS

Às vezes, ao escreverem seus textos, os alunos recém-alfabéticos deixam de escrever alguma letra, ou fazem trocas. Por exemplo: LIVO em vez de LIVRO, ou TARBALHO em vez de TRABALHO.

C / Q / K

No início da aprendizagem da escrita é comum os alunos cometerem erros como CEIJO, para grafar QUEIJO. Outros se apoiam nos nomes das letras e escolhem o K em palavras como MAKAKO. Embora a regularidade do uso de C, Q e K seja em geral compreendida rapidamente pelos alunos, é preciso avaliar com atenção a necessidade de um trabalho mais sistemático. Quantos alunos de sua classe ainda cometem erros dessa natureza?

G / GU

É comum a escrita GITARRA, em vez de GUITARRA. Essa também é uma regularidade simples; se você encontrar vários erros dessa natureza nas produções escritas de seus alunos, poderá ajudá-los a superá-la.

M / N

Os alunos necessitam de atividades voltadas para a compreensão da regra que ajuda a escolher corretamente uma ou outra dessas letras.

R / RR

Aqui também os alunos precisam refletir especificamente sobre os diferentes sons do R e sobre a forma como essa letra aparecer nas palavras, para compreender seu uso.

S / SS

Os alunos precisam refletir especificamente sobre os diferentes sons do S e do SS, sobre a forma dessa letra aparecer nas palavras, para compreender seu uso. Dependendo da palavra, o S pode ter som de C ou de Z. Quando aparece na palavra com som de C o S vem escrito entre uma consoante e uma vogal – ofenSa; conSenSo; diverSão. Já com som de Z, aparece entre duas vogais – aSa; maravilhoSo.

As palavras com SS possuem o som de Ç, por isso vêm escritos entre vogais – proceSSo; groSSeiro; aSSadura. Todas essas dificuldades ortográficas podem ser superadas pelos alunos se houver um trabalho de reflexão sobre as regularidades da língua que lhes permita analisar a escrita de palavras, discutir o que observaram e formular regras escritas. Ainda que suas formulações sejam imprecisas, ou não correspondam exatamente ao que consta das gramáticas, trata-se de um primeiro passo em direção à compreensão das regras. Ao organizarmos aqui as atividades, optamos por focalizar as principais dificuldades ortográficas apresentadas pelos alunos que se alfabetizaram ao longo do 1º e 2º ano.

Todas elas permitem a reflexão sobre os princípios gerativos, ou seja, sobre as regras que contribuem para decidir qual a grafia correta das palavras. Também é importante criar estratégias de ensino que ajudem os alunos a aprender a escrever de modo correto as palavras usadas com frequência – independentemente de serem, ou não, regidas por regras. Nesses casos, é preciso estabelecer combinados e eleger palavras que os alunos devem escrever convencionalmente, aquelas que costumam utilizar no dia a dia e não podem errar.

Para isso, recomendamos que você organize com sua turma conjuntos de palavras a partir de campos semânticos. Por exemplo: palavras comuns em sua rotina de trabalho, palavras muito utilizadas nos estudos realizados, palavras frequentes na produção de um determinado texto ou gênero etc.

ATENÇÃO!

As atividades propostas a seguir são adequadas apenas para os alunos que já leem e escrevem convencionalmente, considerando que em uma mesma turma há alunos em diferentes níveis. Neste início de ano, é possível que alguns de seus alunos ainda não tenham se alfabetizado. Para esses, você deverá propor situações de análise e reflexão sobre o sistema de escrita, enquanto o restante da turma faz as atividades de ortografia.

ATIVIDADES PARA O ENSINO DA ORTOGRAFIA

RELEITURA COM FOCALIZAÇÃO

Trata-se de uma atividade instigante, pois ajuda a direcionar o olhar do aluno para o “interior das palavras”, ou seja, propõe que ele faça a leitura interessado em discutir o modo pelo qual as palavras estão escritas.

Falamos em “releitura” e não em “leitura”, porque, antes de começar essa atividade, é importante que os alunos já tenham lido o texto para explorar seu conteúdo; assim evita-se que o texto seja lido apenas para discutir questões ortográficas. Você pode orientar a releitura com focalização considerando todas as dificuldades ortográficas que aparecem no texto, ou então concentrar a atenção em uma questão especial. No primeiro caso, espera-se que os alunos observem as palavras mais difíceis porque sua escrita provoca dúvidas. No segundo caso, a releitura com focalização é útil para refletir sobre alguma regularidade ortográfica

LEMBRETE

As atividades de releitura com focalização propostas a seguir, bem como as de ditado interativo, devem servir de modelo para você planejar outras semelhantes, direcionadas para as dúvidas ortográficas mais frequentes de seus alunos. Selecionamos aqui alguns textos para orientar a realização de cada atividade. Mas você pode optar por outras histórias, conhecidas pelos alunos, nas quais apareçam palavras grafadas com a dificuldade que estiver em questão. O importante é que, diferentemente do momento em que as crianças leram o texto para conhecer a história ou a informação transmitida, desta vez você conduzirá sua atenção para determinada questão ortográfica

FONTE:

Educa juntos : língua portuguesa / Secretaria de Estado da Educação e do Esporte. – Curitiba : SEED – PR, 2021. – 286 p. Caderno de orientações didáticas para o professor ; segundo ano).

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