Brasil: A Colonização e o Ensino Jesuítico

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Após a chegada dos portugueses ao Brasil, instalou-se aqui o modelo político e econômico denominado de agrário-exportador dependente, o qual se caracterizava pela prática extrativista de produtos naturais (pau-brasil, cana-de-açúcar, ouro, diamantes, algodão e tabaco), que eram levados para Portugal (a metrópole que exercia poder sobre a colônia) e demais países europeus.

Esta relação recebia o nome de Pacto Colonial, que compreendia o direito de exclusividade adquirido pela metrópole para explorar a colônia. Este regime monopolista exigiu a organização da elite colonial – composta pela nobreza e burguesia mercantil – principalmente no que diz respeito à formação e administração de grupos de pessoas que trabalhassem na terra, com custo mínimo da mão-de-obra. Inicialmente, buscou-se a dominação dos índios através da força, mas como eles tinham conhecimento geográfico da colônia, os confrontos, apesar da diferença de armamentos, eram desvantajosos para os colonizadores.

Brasil: A Colonização e o Ensino JesuíticoEm 1549, chegam com Tomé de Souza quatro padres e dois irmãos jesuítas, sob a responsabilidade do padre Manoel da Nóbrega. Eles objetivavam ampliar seu poderio religioso, ameaçado pelo protestantismo iniciado por Martinho Lutero, através da educação. No Brasil colônia, esta atividade almejava também a dominação ideológica sobre os índios, convertendo-os à fé católica. Os índios eram ensinados a obedecer e aceitar os dogmas e leis impostas pelos religiosos, sob pena de serem castigados por estarem em pecado.

A conversão possibilitou o domínio do colonizador sobre os nativos, atendendo os interesses políticos e econômicos de Portugal. Contudo, os índios não se renderam tão facilmente. Eram Brasil: A Colonização e o Ensino Jesuíticonecessários, então, outros braços para ajudar a explorar as riquezas da colônia. Assim, em 1568, aportaram em solo brasileiro os primeiros grupos de negros, trazidos da África, tornados escravos, para trabalharem na monocultura latifundiária canavieira.

Além dos administradores portugueses (representantes da Coroa na Colônia) e o clero, surgiram, neste momento, outras classes sociais: os senhores de engenho (latifundiários) e escravos (detentores da força de trabalho). A presença da Companhia de Jesus garantiu a importação da cultura vinda da Europa, atendendo às exigências da camada dirigente, que queria se aproximar do estilo de vida da metrópole. Dessa forma, iniciou-se a educação escolar, distante dos problemas e necessidades da colônia.

Num contexto social com tais características, o ensino só podia ser conveniente e interessar a esta camada dirigente (pequena nobreza e seus descendentes), servindo de articulação entre os interesses metropolitanos e as atividades coloniais. Todas as escolas jesuítas eram regulamentadas por um documento, escrito por Inácio de Loiola, o Ratio atque Institutio Studiorum, chamado abreviadamente de Ratio Studiorum.

Brasil: A Colonização e o Ensino Jesuítico

Observe atentamente o Plano de estudos da Companhia de Jesus, publicado em 1599, apresentado acima. Ele concentrava sua programação nos elementos da cultura europeia, mais precisamente de Portugal, valorizando conhecimentos religiosos e da área de Humanas. Era direcionado para os filhos dos dirigentes da sociedade da época, sem pretensão de instruir índios e negros: a estes era destinada exclusivamente a catequese.

As Missões de Evangelização, responsáveis pela catequese, acabaram, inclusive, transformando os índios nômades em sedentários, facilitando a captura deles pelos colonos.

Você sabia?

“O Humanismo dos jesuítas utilizava métodos que harmonizassem a fé cristã e a razão, resgatando ideias de Aristóteles. A Escolástica jesuítica apoia-se principalmente em S. Tomás e outros autores do século XIII, tendo a fé como ponto central das reflexões filosóficas, menosprezando conhecimentos relativos à filosofia da ciência.” Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid =S1413-24782000000200010

Veja que no Ratio Studiorum não consta nenhuma disciplina da área científica. Os jesuítas defendiam o humanismo, enfatizando estudos relativos às atividades literárias e acadêmicas. Defendiam valores como a autoridade, obediência, fé e tradição, ignorando etapas de aquisição e desenvolvimento do conhecimento científico, tais como métodos de pesquisa, análise e experimentação.

Com o apoio da coroa portuguesa, a Companhia de Jesus adquiriu domínio no campo educacional. Isto, por sua vez, fez com que os seus colégios fossem procurados por muitos que não tinham realmente vocação religiosa, mas que reconheciam ser esta era a única via de preparo intelectual. No século XVII, os graus acadêmicos obtidos nessas escolas eram, juntamente com a propriedade de terra e escravos, critérios importantes de classificação social. (RIBEIRO, 1984, p. 29).

Esta era uma forma de garantir o prestígio político e econômico do grupo que se encontrava no poder. A Companhia de Jesus preparava os futuros bacharéis em Belas-artes, Direito, Medicina, além de teólogos e professores, tanto na Colônia como na Metrópole, fornecendo assim os quadros dirigentes da administração colonial local. Com isso, a Igreja Católica, através da arma pacífica que é a educação, exercia poder político, econômico e social. Os jesuítas mantiveram sua hegemonia educacional no Brasil durante duzentos e dez anos, até 1759, quando foram expulsos de todas as colônias portuguesas por decisão de Sebastião José de Carvalho, o marquês de Pombal, primeiro-ministro de Portugal de 1750 a 1777.

Até essa data, haviam construído no Brasil 25 residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus. Apesar da expulsão transitória dos jesuítas do Brasil no fim do Século XVIII, a Igreja preservou sua força na sociedade civil ainda nas fases do Império e da Primeira República. (ROMANELLI, 2005, p.48).

Atenção!

A educação formal ministrada era exclusiva para os homens; às mulheres os ensinamentos restringiam-se ao aprendizado de prendas domésticas e boas maneiras. O sistema familiar era patriarcal: o pai era o chefe da família e tinha o poder de vida e morte sobre seus descendentes e escolhia os noivos para suas filhas, que só tinham duas opções: casar ou tornarem-se freiras.

Você sabia?

Brasil: A Colonização e o Ensino JesuíticoJean Baptiste DEBRET (1768-1848) era pintor e desenhista francês, participante da missão de artistas convidados por Dom João VI, que esteve no Brasil em 1816. Foi nomeado professor de pintura histórica da Academia de Belas Artes (1820). Regressando à França em 1831, publicou em Paris, de 1834 a 1839, Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, uma série de gravuras sobre aspectos, paisagens e costumes do Brasil, de valor fundamental para nossa história do começo do séc. XIX.

Título : História da Educação no Brasil

Autor : Josimeire Medeiros Silveira de Melo

Fonte: História da Educação no Brasil / Josimeire Medeiros Silveira de Melo; Coordenação Cassandra Ribeiro Joye. – 2 ed. Fortaleza: UAB/IFCE, 2012.

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