Afinal, a arte tem valor? Um pouco sobre a arte

Em uma aula de Arte, quando discutíamos o valor da Arte Moderna, um estudante do Ensino Médio afirmou: “Se eu pudesse juntaria todas essas obras de Arte e faria uma grande fogueira, pois para mim elas não têm valor algum”. E para você, a Arte denominada de “Moderna” tem valor? Qual é esse valor?

Um pouco de Arte

São tantos os acontecimentos que a vida parece passar diante dos nossos olhos tão rapidamente que, além de nos deixar atordoados, deixa-nos também sem tempo para pensar. Por exemplo, você tem o costume de olhar para o céu? Ou acha que isso é perda de tempo? Sabe quando é lua cheia, ainda conta estrelas e procura figuras nas nuvens? Ou isso é coisa de criança ou de quem não tem o que fazer? Agora, se você prestar atenção nos programas de TV verá que a maioria aborda assuntos relacionados a catástrofes, escândalos políticos, rebeliões, mortes, sequestros, tráfico, pobreza, violência! Fatos do cotidiano que nos causam medo e nos paralisam. Enfim, diante desse cenário fica difícil falar de arte.

Como falar às pessoas que cantem, que dancem ou que se maravilhem com o pôr-do-sol? Que se emocionem com o cantar dos pássaros, que vejam a beleza das flores e que pensem nos sonhos da infância? Pois é, diante dessa realidade conturbada, pode parecer loucura falar de Arte. Aliás, se vemos a arte como beleza, podemos nos perguntar: qual arte alguém é capaz de produzir diante desse quadro de horrores? Qual beleza é possível representar? Mas, será que os artistas só representam coisas belas em suas pinturas? Observe, por exemplo, O Grito, de Edvard Munch.

Afinal, a arte tem valor? Um pouco sobre a arte

O que significa essa expressão, deformada pelo desespero, do personagem do centro que parece levar o eco do grito a todos os cantos? O que ele pode estar gritando? E você já gritou desesperadamente? Por quê? Sua expressão de alguma forma se assemelhou à expressão do Grito de Munch? Gritamos apenas por desespero ou existem outras situações que nos fazem gritar? Nessa obra de Munch podemos quase tocar o medo com as nossas mãos ou senti-lo na própria pele. Nesse quadro vemos uma das maiores representações do medo humano.

Por isso, essa imagem já foi utilizada em campanhas anti-aborto, em camisetas, anúncios e pôsteres sempre com o intuito de despertar uma reflexão sobre o verdadeiro valor da vida. Realmente, essa obra mexe com nossos sentimentos, mas, por quê? Primeiro somos levados pelo movimento das linhas, das cores vibrantes e da deformação no rosto da figura. Na verdade, o pintor passou para a tela uma sensação, uma paisagem interior, expressa desta forma por Edward Munch: “Léguas de fogo e sangue se estendiam pelo fiorde negro-azulado.

Meus amigos seguiram caminho enquanto eu me detive, apoiando-me num corrimão, tremendo de medo – e senti o guincho enorme, infinito da natureza”. (…) Veja, 23 de fevereiro,1994, p. 105. O Grito de Munch traduz o grito da natureza humana, um horizonte conturbado por uma das maiores e mais antigas sensações humanas: o medo. Para Edvard Munch, a arte não devia representar o mundo das aparências, e sim o mundo interior das pessoas. A paisagem natural é substituída por uma paisagem interior que mais parecia um turbilhão de emoções como podemos observar em sua obra “O Grito”.

Expressionismo: a emoção à flor da pele!

Essa forma de pintar era a marca registrada dos pintores expressionistas, que se inspiraram nas obras de Vincent Van Gogh (1853–1890). Munch foi um dos fundadores do movimento expressionista. Todos eles tinham em comum a preocupação com a vida humana. Mas, afinal, o que é Expressionismo? Ouvimos falar a todo momento em liberdade de expressão. E você, sente-se livre para expressar seus sentimentos? Pois esse foi um dos pontos fortes do Movimento Expressionista: manifestar o mundo interior, ou seja, a dor, o sofrimento, a solidão, a angústia, a morte, o sufoco. De acordo com Gombrich (1993, p. 449), “o Movimento Expressionista surgiu na Alemanha em 1910, aproximadamente, e seus artistas alimentavam sentimentos tão fortes em relação ao sofrimento humano, à pobreza, à violência e à paixão, que eram propensos a pensar que a insistência na harmonia e beleza em arte nascera exatamente de uma recusa em ser sincero. Não desejavam criar cópias idealizadas do real e sim uma representação dos sentimentos humanos”. Aliás, os sentimentos humanos e as deformações próprias da vida humana também são retratados na foto abaixo. Não é impressionante a semelhança entre a expressão facial do feto morto e O Grito de Munch?

Observe com atenção:

Afinal, a arte tem valor? Um pouco sobre a arteO Grito de Munch data, como já vimos antes, de 1895 e o feto, morto por contaminação radioativa, uma vítima da explosão da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, no ano de 1986. O acidente nuclear de Chernobyl foi um dos piores de todos os tempos. Ocasionado por um dos reatores da usina que lançou, no meio ambiente, uma imensa quantidade de radiação, deixando um rastro de destruição até mesmo em países distantes, como a Itália e a França. Esse desastre matou cerca de 14 mil pessoas só na Rússia e na Ucrânia.

No Brasil tivemos um desastre semelhante: o acidente nuclear de Goiânia, em outubro de 1987, quando muitas pessoas também morreram. Na verdade, tudo começou como uma brincadeira. Dois homens, à procura de sucata, entraram numa clínica de radioterapia, desativada, encontraram um aparelho de radioterapia (utilizado para tratamento de câncer), levaram-no e venderam-no a um ferro-velho. Durante a desmontagem do aparelho, cerca de 20g de cloreto de Césio 137 (137 CsCI), que estavam numa cápsula que foi quebrada, foram expostos. O Césio 137 é um elemento químico radioativo, artificial, semelhante a um sal de cozinha que brilha no escuro.

A radioatividade é um fenômeno que alguns elementos químicos apresentam e se caracteriza pela emissão espontânea de radiações ALFA ( ) , BETA ( ) e GAMA ( ), que interagem com as partículas do ar produzindo efeitos luminosos. A luminosidade do Césio atraiu muitas pessoas que o manipularam e o distribuíram entre parentes e amigos. Foi colocado no bolso, esfregado no corpo e levado para as casas de muitos moradores da região; o césio acabou contaminando muitas pessoas.

O artista brasileiro Siron Franco retratou tudo isso em uma série de pinturas intituladas de Césio. Observe sua obra com atenção.

Afinal, a arte tem valor? Um pouco sobre a arte

O artista nesta obra retrata uma criança dentro de um retângulo azulado. Sobre ele podemos observar um par de sapatos demonstrando a luminosidade do Césio. O fundo da composição tem como material de pintura a terra, pois foi pela terra que a contaminação se espalhou. Quem é essa criança? O que o artista evoca por essa representação pictórica? Compare o vermelho da obra Segunda vítima, de Siron com o vermelho da obra O Grito, de Munch e destaque as semelhanças e diferenças. O que significa esse vermelho em cada uma das obras? Qual relação existe entre as duas obras? A série Césio, além de revelar uma preocupação social do artista, leva-nos a refletir sobre a vida. Na sua opinião, a Arte nos faz refletir sobre a vida? Escreva uma pequena crítica sobre a função da Arte na sociedade. Leia para seus colegas e analisem as diferentes visões.

A arte para Siron Franco tem o compromisso com acontecimentos sociais e com a complexidade do mundo contemporâneo e precisa dar visibilidade às experiências sentimentais, intelectuais, éticas e morais inerentes a essa época. Por meio das linhas, das cores e das formas, é possível evocar um sentimento difícil de expressar com palavras. As imagens podem, algumas vezes, dizer mais do que as palavras? Por quê?

O Expressionismo das Linhas

Será que uma simples linha pode passar uma mensagem ou uma sensação? Mas, o que é uma linha? Ou melhor, o que pode expressar uma linha? Analisando as linhas podemos perceber que são carregadas de emoção e portadoras de sentido. Cada artista pode estruturá-las e expressá-las, em uma obra, de modo diferente.

É o caso de Munch que, embora tão expressivo quanto Van Gogh, é muito diferente, pois cada artista possui uma maneira própria de traçar essas linhas e usar as cores, tornando-as únicas e marcantes em razão do estilo de cada um. “Vejamos a qualidade expressiva das linhas de Van Gogh: os traços são curtos, ele usa pequenas “vírgulas” e curvas, em breves momentos de espaço e tempo, justapostas numa repetição enfática. As sequências, também repetidas, adensam-se rapidamente e param, criando em nossa percepção o equivalente a obstáculos físicos a serem transpostos, dramaticidades e tensões altamente emotivas”. (OSTROWER 1983, p. 32)

Afinal, a arte tem valor? Um pouco sobre a arte

O Expressionismo das Cores

Vermelhos, azuis, verdes, laranja, violeta… São tantas as cores! Umas fazem rir, outras chorar; algumas são sombrias, outras luminosas; algumas são puras, contrastantes, loucas, vibrantes, densas, fluídas ou transparentes; outras fazem pensar. O que seria da vida sem as cores?

Muitos artistas foram apaixonados pelas cores, mas, um artista usou as como poucos: Vincent Van Gogh. Esse artista exagerava no uso dessas cores. Aliás, para Van Gogh, as cores, as linhas e as formas de um desenho eram apenas um pretexto para expressar emoção: “Eu quero a luz que vem de dentro, quero que as cores representem as emoções” (Vincent Van Gogh).

Podemos ver que não é a sua vida que explica a sua obra e sim a sua obra que transcende as barreiras de sua própria vida, dando sentido a ela. Van Gogh mesmo sendo considerado louco reformulou a pintura, teve a capacidade e a sensibilidade para ver o mundo de uma maneira completamente diferente. Que valor tem a arte ao pensarmos em Van Gogh? Quais são esses valores? São os mesmos valores de Munch?

Observe com atenção esta obra de Van Gogh:

Afinal, a arte tem valor? Um pouco sobre a arte

O Artista: Vincent Van Gogh (1853-90), nasceu na Holanda e, aos 27 anos, perguntou-se: “Existe alguma coisa em mim que pode ser útil, mas o quê?” Decidiu cumprir por meio da arte sua missão para com a humanidade. A sua obra manifesta a essência da própria vida com cores que saltam aos olhos e expressam a alegria e a agonia de viver. Segundo STRICKLAND (1999, p. 120), o pintor era sujeito a crises de profunda solidão, sofrimento e colapso emocional, atirava-se à pintura com um frenesi terapêutico, produzindo oitocentas telas e outros desenhos no período de dez anos. Não conseguiu o reconhecimento de sua obra como artista e vendeu apenas um quadro em toda a sua vida.

Essa foi a última obra que Van Gogh pintou. Os trigais são turbulentos e inquietos, podemos ver que o céu apresenta-se escuro e carregado com corvos em revoada. Assim como as linhas, também as cores expressam muito do que somos e do que sentimos. Por exemplo, o céu em um dia claro, não nos transmite uma sensação diferente de um céu com nuvens carregadas? O que sentimos quando vemos o verde das árvores em um dia de sol e em um dia chuvoso no inverno? Pois é, somos envoltos pelas cores e o mundo, quanto mais iluminado, mais parece colorido. Van Gogh sabia disso e, em suas obras, usou e abusou das cores retratando, por meio delas, além de sua alma, as suas emoções.

O Expressionismo das Formas

Na sua opinião existem formas diferentes de representar uma mesma ideia ou uma mesma emoção? Como você representaria, por exemplo, a dor e o sofrimento humano? Mas, e o que é forma? “Podemos dizer que a forma é a configuração ou o aspecto dos objetos quando representados em uma obra de arte”. (MARCONDES, 1998, p.121) Além disso, a forma é figurativa quando representa figuras e objetos e abstrata quando não tem intenção figurativa. Quando usamos a forma abstrata em uma obra, não representamos pessoas ou objetos, mas, mesmo assim podemos “dizer” muita coisa, ou seja, representar algo, pois as formas podem evocar alegria, tristeza, beleza, tranquilidade, agitação, dinamicidade, conflitos, soluções, representar a vida humana.

REFERÊNCIAS:

Arte / vários autores. – Curitiba: SEED-PR, 2006. – 336 p


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