Primeiramente, vamos entender um pouco sobre o que chamamos de complexidade. Pela construção da palavra, e sua origem do latim (Complexus), significa aquilo que pode ser tecido em conjunto. “É complexo o que não pode se resumir a uma lei, nem a uma ideia simples […]. A complexidade é uma palavra-problema e não uma palavra-solução”. (MORIN, 2010, p.06) A condição humana para Morin é complexa, tem multidimensionalidade. Somos seres naturais, morais, físicos, culturais, etc…
Sendo que, se o conhecimento for dividido em caixas causará uma cegueira do conhecimento, pois devemos saber as informações para podermos aplicá-las no cotidiano. De nada vale termos inúmeros conhecimentos, sem aplicabilidade, ou sem o entendimento do todo que compõe as partes, mas por outro lado, também, devemos conhecer as partes que compõe o todo.
Para Morin as principais perguntas que a humanidade se faz, tais como. De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos? Ainda estão sem respostas, pois nosso sistema educacional nos ensinou a compartimentar, tanto, o conhecimento que a gente não tem respostas para essas perguntas.
Se perguntarmos o que é o ser humano? Não teremos uma resposta, pois as respostas são dispersas, o pensamento complexo, então, se configura desta forma: reunir os conhecimentos separados. Daí vemos a grande importância desse teórico para a educação.
Fomos acostumados a pensar que o pensamento e a prática são duas coisas distintas, muitos já devem ter escutado a expressão “quem não sabe fazer ensina”. Nesse sentido, podemos elencar alguns mitos sobre a aprendizagem:
1º Aprendizagem é consequência do ensino;
2º Aprendizagem se faz em etapas, lineares e cumulativas, fragmentado e inflexível;
3º Aprender é diferente de usar o conhecimento.
Uma das obras mais conhecidas de Morin é a “A cabeça bem feita; repensar a reforma, reformar o pensamento”. Nessa obra, o autor, faz um resgate do livro Emílio, de Jean Jacques Rousseau, escrito em 1762 que inclusive serviu de inspiração para nossos modelos educacionais.
Morin escreve sobre esse Emílio contemporâneo, onde busca a não separação da natureza da cultura, “transmitir não o mero saber, mas uma cultura que permita compreender nossa condição e nos ajude a viver, e que favoreça, ao mesmo tempo, um modo de pensar aberto e livre” (MORIN, 2010, p.11).
Podemos observar que assim como Freire, Morin se preocupa com a educação voltada para libertar o homem e que, o mesmo, possa ter uma leitura de mundo e possa lidar com a complexidade que é a vida. A complexidade, em conjunto com outras teorias, vem para mudar nossa visão de mundo, o ser humano é um ser complexo e, por isso, vive mergulhado em diversos questionamentos.
De fato, todos os dias somos bombardeados com informações de todos os âmbitos, e como lidar com esse volume imenso delas, que vão sendo empilhadas em nosso cérebro? Uma das funções da educação é ensinar a viver nesse mundo caótico que se apresenta, filtrando e sabendo a diferença entre informação, conhecimento e sabedoria.
Nesse sentido, Morin elenca sete conhecimentos, ou sete saberes, que ele julga necessário para dar conta do ensino do futuro. Em uma sociedade, que hoje é permeada pelas tecnologias da informação e comunicação, as informações são rapidamente acessadas e propagadas sem, muitas vezes, um olhar crítico sobre as mesmas.
Esses sete saberes que Morin apresenta, de certa forma, nos remete ao número 7 (sete), que representa muitos dilemas desse mundo complexo em que vivemos, por exemplo, sete fases da lua, sete dias da semana, etc. Vamos aos sete saberes, segundo Morin (2000), na figura:
1– Um conhecimento capaz de entender o próprio conhecimento: nunca ensinamos o que é o conhecimento, uma vez que, este se configura como uma tradução seguida de uma reconstrução.
(…) a necessidade de destacar, em qualquer educação, as grandes interrogações sobre nossas possibilidades de conhecer. Pôr em prática essas interrogações constitui o oxigênio de qualquer proposta de conhecimento. (MORIN, 2000, p.31)
2 – Conhecimento pertinente: É preciso localizar as informações para que tenham sentido, assim as disciplinas compartimentalizadas impedem que o aluno entenda o todo, impedindo o que naturalmente tendemos fazer, que é contextualizar a realidade, precisamos ligar a parte ao todo e o todo às partes. “Para que o conhecimento seja pertinente, a educação deverá torná-los evidentes” (MORIN, 2000, p.36)
3 – Ensinar a identidade humana: Reconhecer a nossa humanidade comum em que vivemos. E, ao mesmo tempo, a diversidade da nossa condição humana. “A educação do futuro deverá ser o ensino primeiro e universal, centrado na condição humana… Estes devem reconhecer-se em sua humanidade comum e ao mesmo tempo reconhecer a diversidade cultural inerente a tudo que é humano” (MORIN, 2000, p. 47).
4 – Ensinar a compreensão humana: Ensinar sobre como compreender uns aos outros, como compreender nossos vizinhos, nossos parentes, nossos pais.
5 – Enfrentar as incertezas: O século XX derrubou a preditividade do futuro. Caíram impérios que pensavam perpetuar-se. A educação deve ir já unida à incerteza e às reações e ações imprevisíveis.
É preciso aprender a enfrentar a incerteza, já que vivemos em uma época de mudanças em que os valores são ambivalentes, em que tudo é ligado. É por isso que a educação do futuro deve se voltar para as incertezas ligadas ao conhecimento. (MORIN, 2000, p. 84)
6 – Ensinar a identidade terrena: esse fenômeno, que estamos vivendo hoje, em que tudo está conectado, é outro aspecto que o ensino ainda não tocou. Também não aprendemos a pensar sobre o planeta e seus problemas, a aceleração histórica e a quantidade de informação que não conseguimos processar e organizar.
7 – A ética do gênero humano: Ensinar a verdadeira democracia é um dever ético. Mas também, necessita diversidade e antagonismos: a democracia não consiste numa ditadura da maioria. Os nossos estudantes têm que compreender a natureza “trinitária” do ser humano: indivíduo-sociedade-espécie.
Devemos inscrever em nós:
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a consciência antropológica, que reconhece a unidade na diversidade;
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a consciência ecológica, isto é, a consciência de habitar, com todos os seres mortais, a mesma esfera viva (biosfera): reconhecer nossa união consubstancial com a biosfera conduz ao abandono do sonho prometéico do domínio do universo para nutrir a aspiração de convivibilidade sobre a Terra;
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a consciência cívica terrena, isto é, da responsabilidade e da solidariedade para com os filhos da Terra;
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a consciência espiritual da condição humana que decorre do exercício complexo do pensamento e que nos permite, ao mesmo tempo, criticar-nos mutuamente e auto criticar-nos e compreender-nos mutuamente (MORIN, 2000, p.76-77).
Educar, para a complexidade, me parece fazer um fechamento desta unidade disciplinar. Dos pensamentos comportamentalistas, antes de Skinner, de certa forma continuando com este e passando pela necessidade de pensar a educação a partir da interação do sujeito com o meio de Piaget. No contexto sociointeracionista que, Vygotsky, traz à luz, também pensando a educação como um ato político, em Freire.
Assim, acredito que a teoria da complexidade de Morin vem agregar todos esses teóricos, e suas contribuições, para educação, quando pensamos em um sistema complexo, resumindo naquilo que é tecido em conjunto. Não poderemos, jamais, tentar isolar uma ou outra teoria como verdade absoluta e nem dispensar uma, ou outra.
Pois, todas tiveram, e tem, grande importância para o desenvolvimento da aprendizagem e cada indivíduo, que traz consigo uma gama de formação, se constitui em um ser natural, moral, físico e cultural.
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REFERÊNCIAS:
PSICOLOGIA DA APRENDIZAGEM / Silva, Juliane Paprosqui Marchi da, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, Santa Maria | RS 2017
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