A Relação Entre Desenvolvimento e Aprendizagem
Ao desenvolver um trabalho com 68 professoras do ensino fundamental, perguntei como elas viam a relação entre desenvolvimento e aprendizagem. Obtive muitas respostas diferentes e interessantes e vou fazer a mesma pergunta a você. Antes de prosseguir, pense um pouco sobre essa relação entre desenvolvimento e aprendizagem.
Como você acha que eles se relacionam, ou não se relacionam? Depois de refletir, anote a resposta no seu memorial. Veja o que aquelas professoras responderam e compare com suas respostas. O próximo passo é descobrir o que os teóricos da psicologia dizem.
Para a maioria, a relação entre desenvolvimento e aprendizagem é de dependência, as duas caminham juntas; é uma relação de reciprocidade; o aluno só se desenvolve quando aprende. Algumas professoras apresentaram a opinião de que o desenvolvimento ocorre primeiro, sendo condição necessária para que haja aprendizado.
Ou seja, primeiro a pessoa se desenvolve para depois aprender. Outras professoras responderam dizendo que as crianças têm muito a aprender e a ensinar, e a relação deve ser de cumplicidade, ajuda e humildade. Também apareceram respostas que diziam que por meio da aprendizagem que o ser humano desenvolve suas aptidões.
Outras duas respostas remeteram à ação do professor: se dá principalmente por meio de experiências e das oportunidades que o professor procura apresentar aos alunos e vice versa; a valorização das experiências da professora e principalmente dos alunos.
Diferentes Concepções de Desenvolvimento e de Aprendizagem
Na psicologia vamos encontrar diferentes concepções sobre a relação entre desenvolvimento e aprendizagem. Vigotski nos apresenta as concepções mais importantes agrupadas em três grandes posições teóricas. A primeira postula que os processos de desenvolvimento da criança são independentes do aprendizado.
Isto porque o aprendizado é visto como um processo externo que segue o caminho do desenvolvimento, ou seja, o aprendizado se vale dos avanços do desenvolvimento sem fornecer um impulso para modificá-lo. A segunda posição parte do princípio de que aprendizado é desenvolvimento. O processo de aprendizado é reduzido à formação de hábitos, identificando-o com o do desenvolvi – mento.
O princípio fundamental é a simultaneidade entre os dois processos, ou seja, desenvolver é aprender novos comportamentos, isto é, aprender é aumentar o repertório comportamental. A terceira concepção teórica apresentada por Vigotski é a que tenta superar os extremos das outras duas a partir da combinação dos seus pontos de vista. Embora os dois processos sejam vistos como relacionados, eles são diferentes e cada um influencia o outro.
Podemos representar essa concepção dizendo que o desenvolvimento é sempre um conjunto maior que o aprendizado, não havendo, portanto, coincidência entre os dois conceitos. Vigotski rejeita essas três concepções teóricas e propõe uma outra solução para essa relação. Para ele, aprendizado e desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia de vida da criança, portanto, muito antes de ela frequentar a escola.
O aprendizado escolar, no entanto, produz algo fundamentalmente novo no desenvolvimento da criança. Ele propõe que se veja o desenvolvimento em dois níveis diferentes.
O primeiro é o nível de desenvolvimento real, ou seja, o que a pessoa já é capaz de realizar sozinha e o segundo é o nível de desenvolvimento potencial que é determinado pela realização de qualquer tarefa com a ajuda de uma outra pessoa.
A distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial foi chamada por Vigotski como sendo Zona de desenvolvimento proximal .
Com certeza vou criar uma situação difícil para você. Pois é isso mesmo. A nossa criança de oito meses ainda não anda sozinha, mas com ajuda ela anda. E mais ainda, ela já pode ficar em pé sozinha ou com apoio. Ficar em pé com apoio é, neste caso, o nível de desenvolvimento real. Andar com ajuda é o nível de desenvolvimento potencial. Isso acontece também com a gente, os adultos, pois estamos sempre em desenvolvimento porque aprendemos constantemente.
Nessa posição teórica, aprendizado não é desenvolvimento. O desenvolvimento vem de forma mais lenta, após o aprendizado. Podemos dizer, então, que é o aprendizado que puxa o desenvolvimento.O que achou dessas posições teóricas? E agora, como você acha que se dá realmente o desenvolvimento e a aprendizagem? Não se esqueça de anotar suas respostas no memorial. Você percebeu que há na psicologia diferentes maneiras de entender esses processos de desenvolvimento e aprendizagem.
Particularmente, considero que a visão de Vigotski explicita de forma mais completa e complexa os processos de desenvolvimento e de aprendizagem, de constituição do indivíduo e da construção do conhecimento. Sua grande contribuição é mostrar que aprendemos e nos desenvolvemos sempre em relação com as pessoas em nossa volta.
Daí a importância do educador interagir sempre com o outro, ou seja, para ensinar alguma coisa é preciso estar junto com o outro, ajudando-o. O que Vigotski propõe, então, é que o educador busque atuar na zona proximal do desenvolvimento, ou seja, a educação tem de partir daquilo que o aluno já atingiu (o desenvolvimento real) buscando concretizar aquilo que ele apresenta como potencial (o desenvolvimento potencial).
Muitas vezes, o que fazemos é ensinar aquilo que o aluno já sabe ou ainda está longe de poder aprender. É sempre bom lembrar de anotar no seu memorial, pois é importante fazer o registro das coisas que pensamos e depois, ao ler novamente, podemos resignificá-las.
Discussões na Psicologia do Desenvolvimento
- Corpo/Mente
- Inato/Aprendido
- Indivíduo/Social
A psicologia do desenvolvimento estuda diferentes aspectos da evolução do ser humano. Os psicólogos do desenvolvimento interessam-se pelo crescimento da estrutura física, do comportamento e do funcionamento da mente. Influenciados pela busca da medida, os psicólogos consideram o crescimento do corpo e da mente muitas vezes apenas como um contínuo progresso puramente quantitativo.
Ou seja, da mesma forma que a criança adiciona centímetros na sua altura, ela também adiciona quantidade equivalente de inteligência. Daí se fala em idade intelectual. Provavelmente você já ouviu alguém dizer que uma criança de dez anos tem “problemas mentais” porque a idade intelectual dela é de cinco, por exemplo.
Essa visão parte do princípio de que o desenvolvimento é um processo contínuo e ordenado. Dessa forma, o ser humano se desenvolve segundo uma sequência regular e constante, de maneira que a etapa que vem antes influencia a que vem depois sem possibilidade de mudanças nessa sequência.
E mesmo admitindo-se que cada indivíduo tenha seu próprio ritmo de desenvolvimento, esse ritmo é concebido como sendo constante. Ou seja, com essa concepção é negada ao indivíduo a possibilidade de mudança na maneira de ser. O que estamos propondo neste curso é uma visão do desenvolvimento que parte do princípio de que o desenvolvimento é um processo descontínuo, desordenado e acontece em saltos.
Isso significa que o indivíduo não está programado desde a sua concepção para ser de uma determinada maneira. Além das diferenças de cada um, é preciso entender que o que consideramos hoje como infância, adolescência e velhice são “invenções” sócio-culturais relativamente recentes. Durante séculos, as crianças foram consideradas como adultos em miniaturas. Na Idade Média, a partir dos sete anos as crianças começavam a aprender um ofício sob a tutela de um adulto, passando a ter responsabilidades próximas às dos adultos.
Além das responsabilidades, elas participavam de todas as atividades do adulto como, trabalho, lazer, festas etc. Tempos depois, movimentos culturais e religiosos deram lugar ao descobrimento da infância como uma etapa diferente da idade adulta e o tratamento tornou-se diferenciado. Isso significou que a criança deixou de ser vista como um adulto incompleto guardando em si tudo aquilo que ela seria na fase adulta.
Deixa de ser vista como um adulto em miniatura. A partir do s éculo 19 começa a luta pela liberação das crianças da realização de trabalhos pesados. Existem descrições dramáticas das condições de vida das crianças inglesas, nos anos de 1800, que tinham jornadas de trabalho de doze horas, realizando duros trabalhos em fábricas e minas.
E por aqui no Brasil, século 21, como estão nossas crianças? Será que elas estão liberadas dos trabalhos pesados? Você conhece alguma criança que tenha de trabalhar e não possa ir à escola ou brincar? Em relação ao conceito de adolescência, esse só aparece no s éculo 20 quando a criança não passa a ser um adulto de forma direta.
A passagem à condição de adulto vai acontecendo progressivamente e o nascimento da adolescência surge como uma época diferenciada tanto da infância como da ida – de adulta. Resumindo, podemos dizer que:
Título : Relações Interpessoais: abordagem psicológica
Autor : Regina Lúcia Sucupira Pedroza
Fonte Domínio Público: Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Relações interpessoais : abordagem psicológica / [Regina Lúcia Sucupira Pedroza]. – Brasília : Universidade de Brasília, Centro de Educação a Distância, 2006.
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