Som: forma de integração da criança no mundo em que vive

Som: forma de integração da criança no mundo em que viveA música existe desde a pré-história. Todos os sons produzidos na natureza foram sendo observados e considerados como elementos impactantes da vida do ser humano. Ou seja, esses sons que nos cercam, são importantes e nos ajudam a identificar tudo o que está a nossa volta. Por meio do som a criança conhece tudo que a rodeia e desenvolve seu conhecimento em relação a tudo o que faz parte da natureza, cidade e até mesmo o lar em que vive.

Segundo Brito (2013)

O som se trata de movimentos em forma de vibrações; um corpo sonoro que se apresenta de várias formas como por exemplo o canto de pássaros, o mar em movimento, o vento, os automóveis que se locomovem, telefone, vozes e dentre outros diversos sons que podem ser encontrados em nosso dia-a-dia. Para Brito, o som é tudo o que podemos ouvir e perceber. Sendo assim ele acontece quando algo se move; ao mover-se produz a vibração de um corpo que produz o som.

Som é tudo o que soa! Tudo o que o ouvido percebe sob forma de movimentos vibratórios. Os sons que nos cercam são expressões da vida, da energia, do universo em movimento e indicam situações; ambientes, paisagens sonoras: a natureza, os animais, os seres humanos e suas máquinas traduzem, também sonoramente, sua presença, seu “ser e estar” integrado ao todo orgânico e vivo deste planeta (BRITO, 2013, p. 17).

O som, segundo Brito (2013)

São formas de vibração ocasionadas pelo movimento. Quando andamos, por exemplo, produzimos o som de passos, os objetos quando manuseados produzem som de acordo com o tipo e tamanho, a velocidade que permite o vento ser ouvido e que em contato com fios pode causar sons semelhantes ao assobio. São mínimos detalhes que fazem o nosso dia-a-dia ser repleto de diferentes tipos de som.
Existem diferentes intensidades de som – sons fracos, médios e fortes.

Tudo depende muito dos corpos em movimento, ou seja, da intensidade do atrito causado. No exemplo dos passos constatamos que se uma pessoa andar com calma e leveza, o som que ela produz pode ser menos audível, e se ela de repente, aumentar a velocidade e a força com que ela caminha, resultará em passos mais perceptíveis aos ouvidos. Isso é resultado de uma diferenciação na velocidade, intensidade (força), peso e movimento causando atrito com outro corpo (objeto). Dessa forma explorar a percepção dos sons do cotidiano na infância é o primeiro passo para o desenvolvimento e gosto pela música, além de valorizá-lo como direito ao conhecimento.

Portanto, o som durante a infância é primordial na construção do conhecimento e na sua formação como sujeito. Por meio dos diferentes sons a criança conhece o ambiente que a rodeia. Imagine uma criança que nunca ouviu o som de um gato ou cachorro antes. Será que se ela ouvisse o som sem nunca os ter visto antes, seria capaz de saber de que animal se tratava? Enfim, o som de forma geral, permite ao sujeito identificar e diferenciar os sons e classificá-los entre sons da natureza, objetos, voz, animais, instrumentos musicais dentre outros.

O som faz parte do contato com o meio

Somos dotados de cinco sentidos – audição, visão, olfato, paladar e tato. Cada sentido possui uma especificidade que garante ao sujeito seu desenvolvimento integral que permite captar as informações e reservá-las no cérebro. O cérebro faz uma associação entre o que vê, ouve, toca, degusta e cheira. A música é um elemento que desperta o sentido auditivo, desenvolvendo a capacidade do ouvir e perceber os sons com maior clareza, permitindo a aquisição da linguagem oral.

Além da música possibilitar a aquisição da língua oral, ela é um elemento que transcende a linguagem oral, ou seja, independentemente do idioma falado, quando ouvimos uma música, nosso cérebro é capaz de processar de forma completa os elementos presentes na música como por exemplo: o tom, harmonia, ritmo e compreender a informação que aquela música pretende passar, mesmo sem compreendemos a letra.

Por esse motivo podemos afirmar que a música tem sua própria linguagem ou como aponta Lima (2010, p. 24) “[…] podemos dizer que os cérebros “falam” línguas diferentes, mas reagem igualmente à música […]”. Assim, a música deve ser vista como linguagem de expressão, que possibilita a transmissão dos sentimentos mais profundos e íntimos, que em palavras são impossíveis de se transmitir. Além da música ser uma linguagem de expressão ela não mobiliza apenas uma área específica do cérebro.

Não há um centro específico para a música no cérebro. Existem, sim, vários sistemas envolvendo várias áreas cerebrais. Entre elas, áreas para tonalidade, timbre, frequência, melodia, harmonia e ritmo. As partes musicais do cérebro localizam-se próximas às partes de memória e estão conectadas com o sistema emocional. Esse fato permite que a música provoque lembranças e emoções muito rapidamente (LIMA, 2010, p. 21).

Podemos perceber que por meio da música

O cérebro mobiliza diversas áreas diferentes, o que faz com que o sujeito desenvolva diversas capacidades, facilitando que a criança se insira no mundo, conhecendo e desenvolvendo sua percepção, atenção e reflexão, auxiliando a capacidade para tomada de decisões (LIMA, 2010). Segundo a teoria piagetiana (2003), o sujeito constrói os seus conhecimentos em contato com o meio em que vive. Assim sendo cabe ao professor mediar as possibilidades para esses novos conhecimentos na fase infantil em que a criança assimila e acomoda essas novas informações que recebe e possibilitar um espaço repleto com diferentes tipos de som, permitindo que a criança aprenda de forma eficiente e diferencie os tipos de som.

De acordo com a visão de Wallon (1995)

O desenvolvimento não depende apenas do amadurecimento biológico e o contato entre o sujeito e o objeto do conhecimento; ele acontece também por meio do contato afetivo. Para Wallon (1995), um ambiente com afeto negativo, pode retroceder o desenvolvimento da criança. Por esse motivo, a música ajuda no desenvolvimento, pois ela é capaz de manifestar afeto por meio do som e proporcionar um ambiente acolhedor. Além de a música ter um potencial para o trabalho pedagógico que envolve o ritmo, possibilita à criança dançar e desenvolver sua coordenação motora, flexibilidade, autonomia e confiança; ela transmite prazer e alegria.

A música proporciona um ambiente favorável, com leveza e socialização. Segundo Vygotsky (2001), a interação social com as pessoas e o mundo aumenta o potencial do ser humano. Para Vygotsky a linguagem e a cultura, fazem parte da vida humana e é fundamental em seu desenvolvimento intelectual. Assim sendo a música faz parte da cultura brasileira. Ela se originou no Brasil a partir da mistura de elementos europeus, africanos e indígenas. Os primeiros professores de música no Brasil foram os jesuítas que eram responsáveis pela catequese. A música no Brasil passou por várias fases, como, a do Classicismo, Romantismo, Nacionalismo até chegar às músicas que ouvimos hoje em dia.

A linguagem musical tem sido interpretada, entendida e definida de várias maneiras, em cada época e cultura, em sintonia com o modo de pensar, com os valores e as concepções estéticas vigentes (BRITO, 2013, p. 25).

Sendo a música uma arte e possuindo uma história antiga

É importante que ela seja trabalhada em sala de aula, como no exemplo da “Educação Artística” dentro das escolas. Da mesma forma que a arte, as pinturas e os quadros pintados sofreram influências históricas, à música também foi refém de todas essas mudanças e acontecimentos. Entretanto, até hoje nas escolas, não houve o ensino da música de forma sistematizada contando sua origem e suas mudanças no decorrer da história. Como destacado anteriormente, à música partiu dos primeiros sons ouvidos vindos da natureza.

A partir disso o ser humano foi identificando e descobrindo novos sons para além da natureza, chegando aos que ele mesmo podia produzir por meio dos seus movimentos, ao soprar um bambu oco, ao bater um objeto no outro, até fazerem o uso da voz para cantar diversas formas de melodia. Segundo Bueno & Bueno (2009), a música é um elemento antigo que foi descoberto na antiguidade. Não se sabe com exatidão quando a música surgiu, mas é provável que ela se originou dos sons advindos da natureza.

A música é uma das formas de expressão mais antiga. Ela toca profundamente o nosso ser, e nos transmite uma série de sentimentos. Devido a sua importância, as habilidades musicais foram transmitidas de pessoa para pessoa desde épocas remotas, iniciando-se assim o ensino da música. (BUENO & BUENO, 2009, p. 2).

O ser humano que não falava passou a prestar atenção em tudo o que ouvia. Partindo dessa percepção, passou a imitar os sons da natureza e consequentemente, descobriu que possuía voz e por meio desta descoberta, houve o início da fala. Com o passar do tempo começaram a criar instrumentos primitivos, sequências com batidas e aos poucos foi surgindo a música.

  Figura 3. Instrumento musical primitivo

Som: forma de integração da criança no mundo em que vivehttp://obviousmag.org/a_dama_celebre/2017/a-origem-da-musica-na-humanidade.html

Som na pré-história

Essa prática foi se aperfeiçoando e dos sons foram surgindo a música que foi passada de geração a geração com inúmeros significados que foram se alterando em cada período histórico. A princípio, a música era usada como objeto de sorte, era executada com o intuito de trazer bons fluídos, prosperidade na colheita e para afastar a má sorte. Acreditava-se que a música era uma forma de engrandecer os deuses que agradecidos por receber adoração, derramariam bênçãos e fartura. Houve também o período em que a música foi objeto de manipulação de ideias, fazendo com que se pregassem valores morais a serem seguidos de acordo com a época.

Nos dias de hoje a música ainda é usada como adoração em muitas instituições religiosas, mas além deste fator, ela ganhou um novo sentido – o sentido de expressão própria com o intuito de transmitir sentimentos, lembranças, ideais dentre outros fatores.

REFERÊNCIAS

BRITO, T. A. Música na Educação Infantil. São Paulo: Peirópolis, 2013.

CUNHA, D. S. S. & CUNHA, E. D. G. Música na Escola? Reflexões e Possibilidades. Guarapuara. Ed. Da Unicentro, 2012.

LIMA, E. S. Cérebro Musical. Revista Presença Pedagógica, 16 (95), set.out.,2010.

LIMA, E. S. Indagações sobre currículo: currículo e desenvolvimento humano; organização do documento Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Pegel, Aricélia Ribeiro do Nascimento – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008.

VYGOTSKY, L. S. A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo; Martins Fontes, 2001.

WALLON, H. Uma Concepção Dialética do Desenvolvimento Infantil. Isabel Galvão; Editora Vozes, 1995.

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