Aspectos da adolescência, sociedade e Família

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Do final da Idade Média ao início da modernidade, a estrutura social sofreu importantes transformações e, consequentemente, a estrutura da personalidade humana, a partir das mudanças do comportamento, vivências, sentimentos. O debate sobre as mudanças na estrutura da família continua, pois, a cada momento, surgem novas questões, outras ressurgem, enquanto outras perdem o sentido no contexto familiar. A esse respeito, afirma Figueira (1989):

A modernização da família é, portanto, um processo complexo que resulta da modernização dos ideais e das identificações, da dissolução e da criação de categorias classificatórias, da plurificação das aparências e da psicologização dos discursos. Quase não é preciso repetir que este processo está longe de ser linear e que seus resultantes são, portanto, complexos.

A contextualização da família na sociedade possui diversos conceitos. Segundo Engels (1985), Todas as grandes épocas de progresso da humanidade coincidem, de modo mais ou menos direto, com as épocas em que se ampliam as fontes de existência. No modelo de família medieval, havia um conjunto de pessoas, parentes ou não, convivendo em torno de uma casa feudal. O período medieval caracterizou-se pelo feudalismo.

O feudalismo começou com o processo de fixação da população europeia no campo. Cada família de servos tinha a posse de um lote de terras no feudo para trabalhar onde dividiam as tarefas. Na modernidade, primeiro se configurou a família dita tradicional normalmente comandada pela autoridade patriarcal. Segundo Lévi-Strauss (1956), há um modelo ideal de família, e esse deve possuir as seguintes características:

(1) tem sua origem no casamento; (2) é constituído pelo marido, pela esposa e pelos filhos provenientes de sua união; e (3) os membros da família estão unidos entre si por (a) laços legais, (b) direitos e obrigações econômicas e religiosas ou de outra espécie, (c) um entrelaçamento definido de direitos e proibições sexuais, e uma quantidade variada e diversificada de sentimentos psicológicos, tais como amor, afeto, respeito, medo e outros.

Em seguida, aparece a família considerada moderna, fundamentada no amor romântico, no casamento. Começa a aparecer a divisão de trabalho entre marido e mulher, e a família divide com o Estado a responsabilidade pela educação do filho. Por fim, desde 1960, temos a família contemporânea, na qual há uma união de duração relativa entre indivíduos, que pode acontecer oficialmente por composições familiares, hétero ou homoafetivas, monoparental, nuclear, extensa etc.

Nem sempre é o pai ou a mãe que exerce a função parental na família; por vezes são os tios, os avôs ou são partilhadas por várias pessoas. As novas e múltiplas configurações da família evidenciam as mudanças nos papeis sociais dos chefes de família. Com todas as mudanças na sociedade esse modelo já ganhou outros contornos. Diversas necessidades levaram a mulher a se introduzir no mercado de trabalho, o que fez com que se tornasse peça importante no provimento financeiro da família, não sendo raros os casos em que é a única provedora.

Ainda existem os casos dos idosos serem provedores das famílias. Na atualidade, a família brasileira, de um modo geral, tem uma formação familiar complexa na sociedade, tendo características diferentes, existem famílias de pais separados, chefiadas por mulheres, chefiadas por homens sem a companheira, a homoafetiva ou heteroafetiva e ainda a nuclear que seria a formação familiar formada de pai, mãe e filhos. Em Psicologia, não há um modelo familiar correto ou incorreto, todos os modelos são e devem ser acolhidos e respeitados.

Essa postura está de acordo com o Código de Ética de Psicologia e orientações do Conselho Federal de Psicologia (CFP) de agosto de 2005. Mesmo com todas essas transformações da família, esta deve continuar desempenhando funções educativas, sendo a parceira da escola na formação do indivíduo, transmitindo os valores culturais, fornecendo modelos de formação para o indivíduo viver em sociedade. A família é o primeiro grupo na sociedade de mediação do indivíduo com o mundo social e ainda é responsável pela sua sobrevivência física e mental.

Ainda cabe a família concretizar o exercício dos direitos das crianças e do adolescente, amparado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, como cuidados domésticos essenciais para possibilitar seu crescimento e desenvolvimento. Na ausência da família natural, deve-se proporcionar à criança ou ao adolescente uma “família substituta” ou instituição que se responsabilize pela transmissão desses valores e condição para uma inserção no meio social.

Na fase da adolescência, focalizam preocupações principalmente com a sexualidade e o uso de substâncias psicoativas. O significado da palavra família pode ser complexo e de difícil compreensão, mas é importante o convívio familiar e também essencial o relacionamento harmonioso entre todos, pois neste ambiente o indivíduo adquire as condições básicas para sua sobrevivência em sociedade.

Temos no Brasil a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei nº. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que determina como dever da família e do estado qualificar e preparar o indivíduo para ser livre consciente de seus direitos como cidadão. Temos:

Art.1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

Art.2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, sem preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, estabelece em seu art. 227, os direitos da criança e do adolescente com a criação do ECA. Art. 19, toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada à convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes.

Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino. A Constituição Federal de 1988 vem garantir o novo modelo familiar com a “união estável” como entidade familiar protegida pelo Estado, devendo a lei facilitar sua conversão nas várias concepções de casamento (artigo 226, § 3º). E ainda, o novo Código Civil 2002 na Lei 10.406 – art. 1567: “a direção da sociedade conjugal será exercida em colaboração, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos”. A Lei

Esse assunto é motivo de amplos debates onde são analisados os complexos processos familiares. É importante salientar a disjunção existente na figura do adulto cuidador pois nem sempre é o pai ou mãe que exerce esse papel, existe uma ampla discussão de gênero que não pode ser esquecida, pois está presente nas escolas e em toda sociedade. Ao longo do processo histórico, os sentidos relacionados à figura do pai passaram por grandes transformações.

O sistema patriarcal, fundado na autoridade paterna, ainda aparece na modernidade, trazendo consequências para as relações sociais no nosso cotidiano, por exemplo, posturas e pensamentos machistas e discriminatórios nas famílias, escolas e sociedade em geral. Atualmente, por vários motivos, principalmente socioeconômicos, como exemplo a inserção da mulher no mercado de trabalho, a família passou a dividir também a função de introduzir o indivíduo na sociedade com as instituições educacionais como as creches, pré-escolas e escolas e isso vem acontecendo em todas as classes sociais.

A instituição educacional acabou se tornando uma das instituições sociais de maior importância em mediar a relação entre indivíduo e sociedade com a responsabilidade de transmitir aspectos culturais, valores morais, comportamento e socialização além da orientação sexual, profissional, valores e ideais, ou seja, a vida como um todo. A família precisa compreender o processo de educação como algo a ser partilhado, onde a educação deve sempre se iniciar dentro do ambiente doméstico. Libâneo (2004) ressalta: a exigência da participação dos pais na organização e gestão da escola corresponde a novas formas de relações entre escola, sociedade e trabalho, que repercutem na escola nas práticas de descentralização, autonomia, corresponsabilização, interculturalismo.

De fato, a escola não pode ser mais uma instituição isolada em si mesma, separada da realidade circundante, mas integrada numa comunidade que interage com a vida social mais ampla. Atendendo as exigências da sociedade onde a estruturação da família está intimamente ligada ao momento histórico que atravessa a sociedade da qual ela faz parte. Todas as variáveis ambientais, sociais, econômicas, culturais, políticas, religiosas influenciam diretamente na formação do cidadão.

Dica de Vídeo Complementar Que relação deve existir entre família e escola? http://revistaescola.abril.com.br/formacao/pais-sao-desinteressados-pela-educacao-filhos-493539.shtml

A fase da adolescência apresenta algumas abordagens. Walon e Freud afirmam que a adolescência inicia com a puberdade, pois não é a idade que determinada seu início ou término e sim as características físicas, psicológicas e emocionais, além das variáveis contextuais (social, histórica, econômica etc.). Para algumas teorias psicológicas, a adolescência é um período social, econômico e historicamente construído.

Os limites cronológicos da adolescência são definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) entre 10 e 19 anos e pela Organização das Nações Unidas (ONU) entre 15 e 24 anos, critério este usado principalmente para fins estatísticos e políticos. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei 8.069, de 1990, considera criança a pessoa até 12 anos de idade incompletos e define a adolescência como a faixa etária de 12 a 18 anos de idade (artigo 2o). Em casos excepcionais e quando disposto na lei, o estatuto é aplicável até os 21 anos de idade (artigos 121 e 142). O adolescente pode ter o voto opcional como eleitor e cidadão a partir dos 16 anos. O conceito de menor fica subentendido para os menores de 18 anos.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define adolescência como sendo o período da vida que começa aos 10 anos e termina aos 19 anos completos. Para a OMS, a adolescência é dividida em três fases:

  • Pré-adolescência – dos 10 aos 14 anos,
  • Adolescência – dos 15 aos 19 anos completos
  • Juventude – dos 15 aos 24 anos.

A adolescência termina quando a pessoa sai da fase infantil para a fase adulta. Esse período é marcado por mudanças físicas do corpo, como também muitas mudanças cognitivas e socioemocionais. A Psicologia contribui bastante para a atuação dos educadores em sala de aula na fase da adolescência e ainda junto as suas famílias. Uma série de características físicas marca essa fase provocando mudanças emocionais e de comportamento.

O Estirão de Crescimento, ou seja, o rápido aumento na altura e no peso que tem início, em média, aos 10 anos para as meninas e aos 12 anos para os meninos é um fato marcante. Esse estágio acompanha o crescimento do torso, o que traz o corpo de volta à proporcionalidade. Nos meninos, o estágio final resulta no alargamento do peito e dos ombros e no desenvolvimento de músculos mais fortes. Para as meninas, as mudanças no corpo ocorrem à medida que os quadris se alargam e a gordura se deposita nos seios, na cintura, nas nádegas e nas coxas.

Todas essas mudanças são consequência do aumento dos hormônios que provocam alterações emocionais. Os sinais da puberdade, o começo do amadurecimento sexual também tem tempos diferentes para os meninos e as meninas. O engrossamento da voz é uma das últimas mudanças perceptíveis do amadurecimento masculino. A fase da adolescência apresenta tarefas particulares, que, muitas vezes, envolvem todos os membros da família.

O diálogo nessa etapa do desenvolvimento assume um papel fundamental. Muitas vezes, é importante uma preparação por parte da família para lidar com seus filhos adolescentes que precisam de orientações, que sirvam de referência para enfrentar situações, que necessitem de reflexão e tomada de decisões. Assim, os pais podem reduzir suas angústias frente à adolescência dos filhos, amparando-os nas dificuldades de ajustamento que enfrentam nesta etapa da vida. Como os corpos humanos, o mesmo ocorre com os padrões de pensamento e emoção humanos.

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Jean Piaget (1896-1980) via os progressos cognitivos da adolescência como uma capacidade maior de pensar de maneira abstrata, denominado pensamento operacional formal onde os adolescentes alcançam a capacidade de compreender e lidar com conceitos abstratos, especular a respeito de possibilidades e alternativas e ainda raciocinar em termos hipotéticos. Segundo Piaget (1970):

O pensamento do adolescente se difere do pensamento da criança, ou seja, a criança consegue chegar a utilizar as operações concretas de classes, relações e números, mas não as utiliza num sistema fundido único e total que é caracterizado pela lógica do adolescente. O pensamento liberta-se da experiência direta e as estruturas cognitivas da criança adquirem maturidade. Isso significa que a qualidade potencial do seu pensamento ou raciocínio atinge o máximo quando as operações formais se encontram plenamente desenvolvidas. Assim é o desenvolvimento mental, constata-se que a unidade profunda dos processos que da construção do universo prático, devido à inteligência senso-motora do lactente, chega à reconstrução do mundo pelo pensamento hipotético-dedutivo do adolescente, passando pelo conhecimento do universo concreto devido ao sistema de operações da segunda infância.

Já David Elkind (1931) descreve sobre o comportamento dos adolescentes da seguinte maneira: os adolescentes vivem uma audiência imaginária, acham que estão sendo constantemente observados e que as pessoas sempre os julgam por sua aparência ou comportamento. E ainda, promovem a construção de uma fábula pessoal, onde acreditam ser diferentes de outras pessoas, onde não serão afetados por coisas negativas que acontecem aos outros.

Wallon possui contribuições muito interessantes para compreendermos e trabalharmos com adolescentes. Conforme Wallon (1985):

“o jovem expressa seus sentimentos com o corpo todo. Por isto, mímicas, gesticulações exageradas tornam-se bastante frequentes traduzindo a falta de habilidade para dominar todo o potencial de que o novo corpo é capaz. Através de brincadeiras, risadas, conversas em tom de voz elevado e muita movimentação que o jovem expressa o prazer em realizar determinadas atividades. Voltam a preponderar às funções afetivas; isto é, a construção da pessoa a sua identidade vai ocupar o primeiro plano. A vida afetiva torna-se muito intensa e toma um relevo que muitas vezes surpreende o adulto. Na adolescência uma das características mais marcantes é a ambivalência de atitudes e sentimentos, resultante da riqueza da vida afetiva e imaginativa que traduz o desequilíbrio interior: alternam-se o desejo de oposição e conformismo, posse e sacrifício, renúncia e aventura. O jovem experimenta necessidades novas, ainda confusas; desejos poderosos e vagos o impelem a sair de si. O desejo de posse, de ter para si e de absorver em si o outro, convive com o desejo de se sacrificar totalmente por esse outro, e ambos representam o prelúdio de atração pelo sexo oposto”.

Para ele, na fase da adolescência existe a tomada da consciência das inúmeras possibilidades que o futuro lhe oferece, ao mesmo tempo, torna-se consciente das limitações pessoais e externas impostas pelo meio em que vive.

FONTE:

Prado, Margareth Simone Marques. Psicologia da educação / Margareth Simone Marques Prado ._ Cruz das Almas, BA: SEAD-UFRB, 2017.

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